terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A madrugada



"A madrugada tem um cheiro fresco, é toda lâmpadas e aviões e táxis e pessoas relativamente perigosas e outras pessoas perigosamente frágeis perambulando, indo umas atrás das outras, fazendo entregas, rindo, pensando na vida ou não pensando em nada e todas escutando um chiado desértico e a própria palpitação quando o semáforo fica vermelho. Trinta segundos de respiração, ar gelado entrando pelas narinas, inundando os pulmões, olhando para o console do carro, para as faixas na rua, para os mendigos, para a luz acesa num apartamento, com uma leve curiosidade em saber porque aquela pessoa está fumando na sacada naquela hora.
Na madrugada todo mundo vira poeta, as coisas funcionam de forma diferente porque é nessa hora que as coisas começam a perder a forma."

Um comentário:

  1. O que fazer a não ser entregar-se a madrugada sem pensar em mais nada que não seja tudo enquanto a vida passa irremediavelmente? Otimo texto.

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