quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Quando o homem inventou a roda, logo Deus inventou o freio. Um dia um feio inventou a moda e toda roda amou o feio."


Pra elevar minhas idéias não preciso de incenso. Eu existo porque penso, tenso, por isso existo. São sete as chagas de Cristo, são muitos os meus pecados. Satanás condecorado, na tv tem um programa. Nunca mais a velha chama, nunca mais o céu do lado. Disneylândia, Eldorado, vamos nós dançar na lama. Bye bye, adeus Gene Kelly. Como santo me revele, como sinto, como passo. Carne viva atrás da pele, aqui vive-se à míngua, não tenho papas na língua, não trago padres na alma, minha pátria é minha íngua, me conheço como a palma da platéia calorosa. Eu vi o calo na rosa, eu vi a ferida aberta, eu tenho a palavra certa pra doutor não reclamar. Mas a minha mente boquiaberta precisa, mesmo deserta, aprender a soletrar. 


Não me diga que me ama, não me queira, não me afague. Sentimento pegue e pague. Emoção, compre em tablete, mastigue como chiclete, jogue fora na sarjeta. Compre um lote do futuro, cheque para trinta dias, nosso plano de seguro cobre a sua carência. Eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência. Demência, felicidade, propriedade privada. Não se prive, não se prove. Dont't tell me, peace and love. Tome logo um engov pra curar sua ressaca. Da modernidade essa armadilha, matilha de cães raivosos e assustados. O presente não devolve o troco do passado, sofrimento não é amargura, tristeza não é pecado, lugar de ser feliz não é supermercado.


O inferno é escuro, não tem água encanada, não tem porta, não tem muro, não tem porteiro na entrada. E o céu será divino, confortável condomínio, com anjos cantando hosanas nas alturas. Onde tudo é nobre e tudo tem nome, onde os cães só latem pra enxotar a fome. Todo mundo quer subir na vida, se subir ladeira espere a descida, se na hora "H" o elevador parar no vigésimo quinto andar, der aquele enguiço, sempre vai haver uma escada de serviço.


Todo mundo sabe tudo, todo mundo fala, mas a língua do mudo ninguém quer estudá-la. Quem não quer suar camisa, não carrega mala. Revólver que ninguém usa, não dispara bala. Casa grande faz fuxico, quem leva fama é a senzala, pra chegar na minha cama tem que passar pela sala. Quem não sabe, dá bandeira. Quem sabe que sabia cala. Liga aí, porta-bandeira não é mestre-sala! E não se fala mais nisso, mas nisso não se fala.


"Tire o seu piercing do caminho, que eu quero passar com a minha dor!"

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